sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cresce demanda por mão de obra qualificada

Considerando as interconexões entre educação e trabalho, penso que estes dados sejam interessantes para nossa reflexão coletiva.

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por Secom em 28/04/2011 21:06hs

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta quinta-feira (28), revela que o Brasil terá ao final do ano 22 milhões de trabalhadores qualificados. Nesta conta, entram os que perderam o emprego por causa da rotatividade (19,3 milhões), os cerca de 2 milhões de desempregados qualificados, mais os 762 mil trabalhadores que entram no mercado já com qualificação e experiência profissional. O estudo prevê que, em 2011, a economia brasileira deve gerar 1,7 milhão de empregos. Mais 19,3 milhões de contratações devem ser feitas em razão da rotatividade no mercado de trabalho. Isso totaliza uma contratação estimada de 21 milhões de trabalhadores.

Outro levantamento divulgado nesta quinta-feira, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), mostra que falta trabalhador qualificado em 89% das 385 empresas da construção civil que participaram da pesquisa. Deste total, 94% reclamam da falta de profissionais "básicos", como pedreiros e serventes, e 56% afirmam que a alta rotatividade dos trabalhadores é uma das principais dificuldades para qualificá-los.

"O forte crescimento da indústria de construção civil nos últimos anos provocou um descompasso entre a oferta e a demanda por trabalhador qualificado. Assim como nos casos da indústria extrativa mineral e de transformação, o principal efeito da falta de trabalhador qualificado na construção civil é sobre a produtividade e a qualidade das obras e serviços", avaliaram a CNI e a CBIC, por meio da sondagem especial realizada sobre o assunto.

De acordo com o Ipea, descontada a demanda por mão de obra da quantidade de trabalhadores qualificados, o levantamento realizado pelo instituto estima um excesso de mais de 1 milhão de trabalhadores. “Quando se contrasta a demanda potencial de mão de obra com a oferta disponível de trabalhadores qualificados e com experiência profissional conclui-se que poderá haver um excesso de mais de 1 milhão de trabalhadores”, informa o estudo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Igualdade e diferença

Santos (2006): “temos o direito a ser iguais, sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza” (p. 462).

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quanto à inércia...

Em tempos de massacre em Raelengo, crises na política internacional e corrupção, este poema nos convida a pensar sobre o papel de cada indivíduo no processo de transformação social. Abraços a Professora Cíntia Barreto que indicou a poesia! Valeu amiga!

Primeiro levaram os comunistas
Mas não me importei com isso
Eu não era comunista

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os sindicalistas
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou sindicalista

Depois agarraram uns sacerdotes
Mas como não sou religioso
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.

(Bertolt Brecht)

terça-feira, 19 de abril de 2011

O cravo não brigou com a rosa...

Reproduzo a seguir o texto de Luiz Antônio Simas para apimentar as discussões sobre o "politicamente correto" em educação. Agradeço minha companheira de trabalho Angela Roberti pela dica. Beij@os!

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O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Texto de Luiz Antônio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de verticalmente prejudicado. O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal, ou horizontalmente prejudicado. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.

Defuntos? Não...... Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços
Luiz Antônio Simas
(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

sábado, 16 de abril de 2011

Cultura afro-brasileira nas escolas

Para contribuir com a inserção da temática da cultura afro-brasileira nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental, o projeto “A Cor da Cultura” lançou, na última segunda-feira (11), a segunda parte do pacote pedagógico de mesmo nome. Durante o encontro, educadores de vários estados brasileiros receberam o material que servirá de base para as aulas no contexto étnico-racial. O conjunto é composto por DVDs com novos episódios das cinco séries que fazem parte do projeto, dois cadernos pedagógicos e três mapas (um do continente africano, outro da diáspora africana e outro dos valores civilizatórios afro-brasileiros). O pacote é mais uma medida prática adotada a partir da aprovação da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e particulares do País. A obrigatoriedade do ensino sobre a temática também está registrada no Estatuto da Igualdade Racial (lei nº 12.288, capítulo II), sancionada em 20 de julho de 2010. A iniciativa, que objetiva fazer com que professores e estudantes percebam com outro olhar o continente africano, é resultado de parceria entre o Ministério da Educação (MEC), a Fundação Cultural Palmares (FCP), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o Canal Futura, a Petrobras, o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan) e a Fundação Roberto Marinho. www.palmares.gov.br

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Homofobia em preto e branco

Episódios de violência contra homossexuais trazem à tona a discussão sobre direitos negados e preconceitos, que são encarados como corriqueiros pela sociedade

Por Glauco Faria e Thalita Pires

No último 14 de novembro, quatro menores de idade e um jovem de 19 anos agrediram fisicamente, utilizando até lâmpadas fluorescentes, três pessoas que caminhavam na avenida Paulista, em São Paulo. No mesmo dia, um estudante foi xingado e baleado por um militar do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, logo depois do fim da Parada Gay carioca. Ainda que as imagens da agressão paulistana tenham chocado, isso não evitou que, 20 dias depois, outros dois jovens fossem vítimas de nova agressão, na mesma avenida. E, no dia seguinte, que imagens de um circuito de segurança mostrassem outro caso na mesma região.

É provável que quando você estiver lendo esta matéria novos casos de violência homofóbica terão ocorrido. Casos notórios como os descritos acima trouxeram à tona a preocupação com a segurança e a proteção da vida de homossexuais no país, embora boa parte da sociedade ainda queira evitar a questão, banalizada e invisível durante a maior parte do tempo. Agressões que têm a orientação sexual como motivação são constantes no Brasil. Não existem dados oficiais a respeito, mas levantamento realizado pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais contabiliza 198 homicídios com motivações homofóbicas em 2009. Em 2010, esse número já chegaria a 205. Segundo o antropólogo Luiz Mott (Universidade Federal da Bahia/UFBA), até 15 de dezembro, o número atingia a marca de 235 mortes, o que colocaria o Brasil na primeira posição entre os países que realizam algum tipo de levantamento.

A evolução da violência é preocupante, e a subnotificação dos casos indica que esse índice pode ser muito maior. Nem sempre as vítimas denunciam os crimes dos quais são vítimas, muitas vezes pelo fato de os algozes serem pessoas conhecidas. “A maioria das vítimas tem algum tipo de relação ou vínculo com o agressor, sendo um familiar, amigo, vizinho ou colega de trabalho. E esse agressor tem uma nítida impressão de impunidade, mesmo sabendo que está cometendo um crime”, conta Franco Reinaudo, da Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual da prefeitura de São Paulo.

Reinaudo se refere ao Mapa da Homofobia, elaborado pela administração paulistana com base em um serviço de denúncias, que ajuda a traçar um mapa das agressões homofóbicas na cidade. Alguns dados merecem destaque e podem ter pontos em comum com outros municípios brasileiros. “Pode-se constatar a intolerância dentro do ambiente doméstico, já que 22% das agressões físicas acontecem dentro de casa. Quando a vítima nos procura por conta da homofobia familiar, é porque foram expulsos da residência em função de o pai ou a família descobrirem que são homossexuais”, relata. “Existem alguns casos emblemáticos, como o de um pai que martelou a mão do menino por conta da sua homossexualidade, e a comunidade ficou a favor disso. Outro caso foi de uma mãe que pediu para o companheiro dela estuprar a filha quando descobriu que era lésbica, para que ela `virasse mulher`.”

Conforme o mapa da homofobia paulistano, das mil denúncias de agressões, 50% aconteceram no centro expandido, que engloba a avenida Paulista. “A gente desconfiava que o centro ia aparecer por dois motivos: lá, é a área onde se tem o maior número de estabelecimentos da comunidade, e sabemos também que existe uma quantidade expressiva de homossexuais e travestis que moram nessa região”, explica Reinaudo. “Em geral, uma outra informação que chega no mapa é que essa violência, quando acontece em espaço público, é bastante covarde, porque os agressores estão em maior número ou pegam a pessoa de surpresa. É uma agressão gratuita, a pessoa não tem a chance de responder. Eles não atacam onde existe alta concentração, a agressão é feita no caminho em que as pessoas estão indo ou vindo da balada, são quase emboscadas no entorno para pegar a pessoa desprevenida”.

As razões da violência e a internet

Mas por que teria havido esse recrudescimento da violência homofóbica? Para a cantora, compositora e ativista Vange Leonel, um dos motivos estaria ligado à visibilidade. “Homofobia sempre existiu, mas a partir do momento em que os movimentos gays passaram a sair para a rua, estamos nos expondo cada vez mais, e é natural, não correto, que haja uma reação maior”, afirma. “Éramos mais discretos, ficávamos em guetos específicos de gays e lésbicas, não estávamos na mídia, na TV etc. Esse é um aspecto deste recrudescimento. Uma reação a uma ação”.

Outro fator que pode ter contribuído para essa onda foi o nível moralista da campanha presidencial. “Nós já temos um caldo cultural homofóbico e tivemos, nesse período eleitoral, principalmente no segundo turno, os fundamentalistas saindo do armário, tanto os religiosos como muita gente que estava controlando sua discriminação, seus preconceitos, e colocaram pra fora. Passaram a aparecer manifestações contra os LGBTs, contra os nordestinos, e isso agora está passando para as vias de fato”, argumenta Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT). “A maneira como foi colocado o debate foi muito triste, e se você buscar qualquer palavra se referindo à homossexualidade na internet, existem muitos sites incentivando o preconceito e até mesmo a violência”, destaca Reis.

A internet é, de fato, o terreno mais fértil para o florescimento da intolerância homofóbica. O caráter anônimo da rede, ainda que ilusório, dá a agressores a confiança de que não serão descobertos ao destilarem seus preconceitos. As denúncias de homofobia à SaferNet, ONG que recebe denúncias de abuso no conteúdo da rede, correspondiam a 4% do total de reclamações no primeiro semestre de 2006. No primeiro semestre de 2010, a porcentagem passou para 10%, com um total de denúncias referentes à homofobia que chegou a 3.090 casos. Entre julho e novembro de 2010, esse número já foi ultrapassado e atingiu 3.217 notificações.

Comunidades homofóbicas, com nome como “Odeio Gays” e “Matem os travecos” fazem parte da história do Orkut. Hoje, é quase impossível acessar uma página de conteúdo tão agressivo, já que, assim que descobertas, elas são apagadas imediatamente. Mas grupos como “Odeio cantadas de gays” e outros que associam times de futebol com homossexualidade são relativamente comuns. Sites de religiosos que atacam a homossexualidade também existem aos montes. Em um deles, de autoria de Julio Severo, é possível encontrar artigos relacionando homossexualidade e pedofilia e um link para uma página que promete ajudar quem quer “sair do homossexualismo”.

Uma das ferramentas mais eficazes para divulgar a homofobia, atualmente, é pelo Twitter. As mensagens instantâneas têm menos moderação que as comunidades do Orkut ou páginas normais e, por isso, muitas vezes são mais agressivas. A polêmica envolvendo os termos #HomofobiaNao e #Homofobia Sim, no site, exemplifica bem o tipo de preconceito que pode ser propagado pela rede social. Logo após as agressões aos rapazes na avenida Paulista, em novembro, uma campanha contra a homofobia chegou ao Trending Topic (assuntos mais comentados) no Twitter. No dia 17 de novembro, um perfil apócrifo chamado @HomofobiaSim foi criado para defender as agressões. Sua descrição na rede afirmava que são os gays “os responsáveis pela propagação de DSTs no mundo”. Em 15 horas, o perfil ganhou mais de 15 mil seguidores e divulgou diversas mensagens preconceituosas, colocando o termo #HomofobiaSim como destaque no site. Após ser cogitada a possibilidade de processos judiciais, as mensagens foram apagadas e o perfil deixou de ser atualizado.

Outro caso é a ameaça que a transexual e ativista dos direitos da comunidade LGBT Luiza Stern sofreu no Twitter em 12 de dezembro. Sem nenhuma troca anterior de mensagens, o perfil anônimo @psycl0n tuitou uma mensagem em que ameaçava “descarregar uma arma” nela. Imediatamente, Luisa denunciou o perfil para a SaferNet, para o Ministério Público Federal e para a Polícia Federal. Ela deve ainda entrar com uma denúncia na Delegacia para Crimes na Internet do Rio Grande do Sul. “Apesar de não poder provar, acredito que o autor dessas ameaças seja uma pessoa que produz esse tipo de conteúdo há muito tempo no Orkut, agredindo integrantes da comunidade ‘Homofobia já era’”, diz Stern. “Até agora, tudo tinha sido agressão verbal, mas ameaça à vida é a primeira vez que recebo.”

A desconfiança de Luiza baseia-se no fato de que, após as denúncias feitas por ela, o agressor postou diversas mensagens sobre o tema. Em uma delas, diz que Luisa o denuncia para o MP e a PF desde os tempos do Orkut, mas que nunca nada havia acontecido. “O anonimato encoraja esse tipo de atitude, mas isso é inaceitável. Quem sabe essa pessoa, que está escondida atrás do computador, não resolve colocar sua loucura em prática? Quero que ele vá para onde já deveria estar, que é a cadeia ou uma instituição mental, onde não possa ameaçar ninguém.”

Em todos esses casos, entretanto, a reação ao preconceito ganhou força, e a própria internet foi um instrumento para articular manifestações contrárias à homofobia. “O meio é um canal para o uso do discurso da moral religiosa, mas o movimento LGBT tem usado a internet para combater o preconceito e se organizar”, afirma Roberto Gonçale, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Advogados do Brasil – Rio de Janeiro (OAB-RJ). “É um espaço tanto de confronto como de colaboração, e deve ser aproveitado da melhor forma possível”, acredita. Prova dessa força foi o “Beijaço contra a homofobia”, organizado virtualmente por conta de um casal homossexual ter sido discriminado por um funcionário de uma doceria Ofner. Em novembro, o grupo já havia participado de um protesto de 500 pessoas contra o "Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia", assinado pelo chanceler Augustus Nicodemus Gomes Lopes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A lei e a mídia

“A gente tem percebido que a homofobia sempre existiu. Na Idade Média, éramos queimados na fogueira; depois, passamos a ser tratados como criminosos e, até o dia 17 de maio de 1990, éramos tratados como doentes”, afirma Toni Reis, referindo-se à data em que a Assembleia Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o código 302.0, relativo à homossexualidade, da Classificação Internacional de Doenças, e reiterou que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. Durante muito tempo, homossexuais foram perseguidos, nos mais diversos países, pela Igreja, pelo aparato judicial e pela própria ciência. Assim, mesmo salvaguardas necessárias, como a aprovação do Projeto de lei 122/06, que está em tramitação na Câmara do Deputados, sofrem todo tipo de resistência.

O texto do projeto, de autoria da deputada federal Iara Bernardi (PT-SP), equipara crimes com motivações homofóbicas àqueles motivados, por exemplo, pelo racismo. “A aprovação da lei transferiria o preconceito para a esfera penal”, explica Roberto Gonçale. Para ele, a falta de uma lei específica faz com que grupos homofóbicos se sintam no direito de discriminar. “A lei penal é restritiva, então, ainda que haja um entendimento de que a agressão aconteceu por homofobia, a Justiça não pode punir”, afirma. A advogada Sylvia Maria Mendonça do Amaral também aponta para a insuficiência da legislação atual. “Se acontece uma agressão verbal, um ato homofóbico, a vítima vai à delegacia e não tem um crime tipificado, abre-se somente um boletim de injúria.”

Sylvia atenta também para outro problema: a dificuldade que as vítimas enfrentam para denunciar os crimes, já que podem ser vítimas de discriminação também nas delegacias, em função do despreparo da polícia para tratar com o tema. “Vejo as pessoas com muito medo de procurar a delegacia e serem discriminadas. Já acompanhei clientes meus para fazer boletins de ocorrência. Quando há um advogado presente, essa eventual discriminação não é demonstrada, mas muitas pessoas que conheço, que foram sozinhas à delegacia, sofreram”, conta.

Da mesma forma, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) compara a importância da aprovação do PLC 122 à criminalização do racismo. “Trata-se de uma disputa cultural. Claro que o Estatuto racial não resolveu a questão do preconceito, mas o inibe. E, daqui a alguns anos, as pessoas vão ter vergonha de dizer que faziam piadas com negros; o mesmo pode acontecer, daqui a alguns anos, em relação às piadas homofóbicas”, defende. Ele também observa o papel desempenhado pela mídia na perpetuação do preconceito. “A Globo, ao mesmo tempo que trata de questões importantes em novelas, reitera estereótipos em seus programas de humor. Imagine um jovem que queria conversar sobre sua homossexualidade com a família no sábado à noite enquanto é exibido um programa como um Zorra Total, que retrata estereótipos daquilo que é mais degradante.”

Apesar de reconhecer que os homossexuais conseguiram mais visibilidade na mídia em geral a partir dos anos 1990 – algo positivo, já que uma das bases do preconceito é justamente a desinformação e a falta de contato –, Vange Leonel também faz ressalvas ao tratamento midiático. “Tem que perder o medo de mostrar o beijo gay, cansam de mostrar em filmes, em enlatados. Não sei por que não se mostra em novela”, questiona. “E tem uma coisa perversa, que é usar esse suspense se vai ou não ter o beijo para ganhar a audiência”.

O papel das igrejas

Os setores conservadores, com efeito, não parecem dispostos a perder o “privilégio” de poder discriminar homossexuais. O PL 122/06 é atacado por muitas igrejas e não raro textos bíblicos usados em cultos e sermões de pastores e padres pregam contra a homossexualidade. Não à toa. Daniel Borrillo, em seu livro Homofobia – História e Crítica de um Preconceito, afirma que “os elementos precursores de uma hostilidade contra lésbicas e gays emanam da tradição judaico-cristã”. Ainda de acordo com o autor, “o cristianismo, ao acentuar a hostilidade da Lei judaica, começou por situar os atos homossexuais – e, em seguida, as pessoas que os cometem – não só fora da Salvação, mas também, e sobretudo, à margem da Natureza. O cristianismo triunfante transformará essa exclusão da natureza no elemento precursor e capital da ideologia homofóbica”, em um processo de desumanização e inferiorização dos homossexuais.

Assim, boa parte da resistência ao reconhecimento de direitos aos homossexuais vem dos religiosos. No caso específico da lei que criminaliza a homofobia, muitos deles vêem nela um equivalente à “lei da mordaça”. De fato, é possível que a aprovação do projeto obrigue os pregadores mais exaltados a segurar a língua na hora de “explicar” seus argumentos contra a homossexualidade. O texto do projeto prevê que será crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça [...] gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero” e que é proibida “a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica”.

É discutível, no entanto, se isso tem alguma coisa a ver com religião ou se atinge apenas os discursos que extrapolam o escopo religioso. “Não há problema em discordar da conduta homossexual e explicar isso aos fiéis”, afirma Roberto Gonçale. O problema seria o estímulo à intolerância. “As igrejas conservadoras usam o discurso para incitar a discordância e acabam servindo como justificativa para a violência. Nesse ponto, não é mais liberdade de expressão”, acredita.

Essa também é a opinião dos pastores Fábio Inácio de Souza e Marcos Gladstone, fundadores da Igreja Cristã Contemporânea, denominação evangélica inclusiva, criada em 2006 no Rio de Janeiro. Homossexuais, os dois fundaram a Igreja por não se sentirem representados nas instituições tradicionais. “A igreja é a instituição que mais dá munição para que o preconceito exista. Na Parada Gay do Rio de Janeiro, havia vários cartazes de igrejas conservadoras, dizendo que gays vão para o inferno e que Deus abomina os gays”, conta Gladstone.

A Contemporânea divide seus argumentos a favor da tolerância em duas categorias. A primeira, é a diferença dos costumes de agora com os de milênios atrás. “A Bíblia de fato, em Levítico, proíbe a homossexualidade, mas o mesmo livro prega que não podemos comer mariscos, cortar o cabelo e que as mulheres não se aproximem de ninguém durante o período menstrual”, diz Souza. “Então, por que essa indignação seletiva contra a homossexualidade? Os costumes mudaram em muitos aspectos, não faz sentido continuar condenando sob esse argumento”, sustenta. A outra linha de argumentação dos pastores tem a ver com as traduções e interpretações que o livro sagrado do cristianismo ganhou ao longo dos anos. “Hoje, há bíblias que usam a palavra homossexual, e ainda discriminam em ativos e passivos. Mas essa palavra é moderna, não poderia estar nas escrituras. Nesse caso, a palavra original era “perversão” e não tinha nada a ver com orientação sexual”, explica Gladstone.

O papel das igrejas na opressão de homossexuais vai além do discurso moral que serve de argumento a agressores. A própria igreja agride fiéis homossexuais, em sua maior parte jovens do sexo masculino, quando tenta “convertê-los” ou “curá-los”. Antes de fundar a Contemporânea, o pastor Fábio de Souza pertencia à Igreja Universal do Reino de Deus, onde também era pastor. Ele passou por diversos “centros de recuperação”, que consistem em palestras de “convertidos”, que tentam convencer os homossexuais de que é possível mudar de orientação sexual. “Quando estava na Universal, fazia diversas ‘libertações’, mas nunca me ‘libertava’. Eu pedia a Jesus, fazia corrente, mas óbvio que nada mudou”, conta. “Só que isso é uma violência. Há casos, aqui na igreja, de pessoas que tentaram o suicídio por não conseguirem mudar. Há outros que chegam a um casamento heterossexual, mas que não conseguem sustentar a situação por muito tempo”, revela.

A cura de homossexuais não é pregada apenas nas igrejas. Há psicólogos que também afirmam fazer terapia para mudar a orientação sexual. O caso mais famoso é de Rosângela Alves Justino, psicóloga e também integrante da Igreja Batista. Em 2009, ela foi julgada pelo Conselho Federal de Psicologia por oferecer esse tipo de terapia. Ela chegou a receber uma punição branda – censura pública –, mas pôde continuar praticando a profissão. No ambiente das igrejas, há mais profissionais com a mesma conduta. “Os fieis são encaminhados para psicólogos se os centros de recuperação não funcionam”, diz Souza.

Apesar de seguir praticamente os mesmos preceitos morais das igrejas tradicionais – Gladstone faz questão de frisar que pregam contra a promiscuidade e o sexo pelo sexo –, a Contemporânea sofre ataques. “Durante os cultos, pessoas de outras igrejas nos rotulam e julgam”, afirma Gladstone. Não são os únicos. Em Fortaleza, outra igreja inclusiva, a Comunidade Cristã Nova Esperança, foi alvo, em dezembro, de ataques e pichações com os dizeres “Morte aos gays e sapatão (sic)” e “Homofobia não é crime”. Em novembro, a igreja teria também recebido uma ameaça de ser incendiada caso não mudasse do local.

O combate à homofobia

Embora provoquem choque casos como o da agressão aos jovens da Paulista, o fato é que a violência cotidiana contra homossexuais só poderá ser superada com uma mudança cultural, que não vai se dar da noite para o dia. Por conta disso, muitos entendem como fundamental trabalhar a questão dentro da sala de aula. “O mais importante de tudo seria tratar do tema nas escolas, tem que se trabalhar uma formação também pensando na igualdade em relação à orientação sexual. Se o adolescente é criado num ambiente homofóbico, na escola ele teria possibilidade de ter outra visão”, acredita Sylvia do Amaral.

A preocupação com os mais jovens não se restringe apenas a preparar futuras gerações que respeitem a pluralidade sexual, mas se trata também de preparar um ambiente melhor para estudantes vítimas de preconceito e que não são aceitos por seus familiares. Caitlin Ryan, professora da Universidade de San Francisco, realizou uma pesquisa, divulgada em maio de 2010, em que entrevistou 224 jovens gays e parentes para avaliar o impacto da aceitação dos pais na vida destes jovens. O levantamento apontou que homossexuais rejeitados por suas famílias têm oito vezes mais chances de tentar o suicídio do que aqueles que foram aceitos; têm seis vezes mais chances de desenvolverem depressão e três vezes mais possibilidade de praticarem sexo sem proteção.

Outra pesquisa, divulgada em 2009 pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que, nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade (alunos, pais, professores e funcionários) têm algum grau de preconceito contra homossexuais. Isso e os possíveis prejuízos à saúde e ao bem-estar de milhões de pessoas que fazem parte do ambiente escolar justificaria a preocupação e a necessidade de se tratar o tema da homofobia na rede de ensino. No entanto, isso também é um tabu.

Mesmo sem ser lançado oficialmente, um conjunto de material didático destinado a combater a homofobia na rede pública de ensino já sofre ataques raivosos e, claro, de cunho homofóbico. O kit, fruto de um convênio firmado entre o Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a ONG Comunicação em Sexualidade (Ecos), trata do tema voltado para o universo de adolescentes homossexuais. O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que pregou no plenário da Câmara que os pais deveriam “dar umas palmadas” nos seus filhos caso percebessem o “desvio” da homossexualidade, voltou à carga contra o material (mesmo sem conhecê-lo), dizendo que o kit “estimula o homossexualismo nas escolas de 1º grau”.

Na verdade, diferentemente do que afirma Bolsonaro, o material será distribuído no ensino médio, voltado para adolescentes, e não para o ensino fundamental. “Esse é outro exemplo de desinformação, é um kit com cinco vídeos que inclui manual para os professores, um material didático que foi discutido três anos com uma equipe multi-disciplinar e com especialistas em sexualidade”, explica Toni Reis. “Além disso, foi testado com profissionais da educação. As pessoas estão distorcendo, afirmando que nós queremos incentivar a homossexualidade, mas queremos incentivar a cidadania e o respeito à dignidade humana.”

Além da questão da homofobia sendo tratada nas escolas, o presidente da ALGBT indica outros passos importantes para a conquista da plena cidadania para os homossexuais. “Temos na ALGBT 237 grupos e nos nossos congressos deliberamos e queremos no Legislativo a aprovação do PLC 122, além da questão da união estável e do nome social das travestis e dos homossexuais. No Executivo, nossa meta é a execução do Plano Nacional LGBT, composto por 166 ações e que foi fruto da Conferência Nacional LGBT. No Judiciário, batalhamos pela aprovação das duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) que têm para ser discutidas no Supremo Tribunal Federal: uma, sobre a união estável e outra, sobre o nome social das trans”, resume. Ainda há um longo caminho a percorrer para que os homossexuais tenham direitos iguais ao do resto da sociedade. Mas não discutir o tema é negar os próprios valores da democracia.


As raízes e a relação com outros preconceitos


De acordo com Daniel Borrillo, no livro Homofobia – História e crítica de um preconceito, o termo, utilizado pela primeira vez nos EUA em 1971, apareceu nos dicionários de língua francesa no fim da década de 1990 e, “da mesma forma que a xenofobia, o racismo ou o antissemitismo, a homofobia é uma manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal; por sua diferença irredutível, ele é posicionado a distância, fora do universo comum dos humanos”.

Para Borrillo, a homofobia funciona como guardiã de um dispositivo de reprodução da ordem social, vigiando não só as fronteiras sexuais (hétero/homo) como também de gênero (masculino/feminino). Assim, o sexismo e a homofobia são tratados como duas faces do mesmo fenômeno social. “Eis porque os homossexuais deixaram de ser as únicas vítimas da violência homofóbica, que acaba visando, igualmente, todos aqueles que não aderem à ordem clássica dos gêneros: travestis, transexuais, bissexuais, mulheres heterossexuais dotadas de forte personalidade, homens heterossexuais delicados ou que manifestam grande sensibilidade...”.

Nesse sentido, é preciso questionar a homofobia não apenas na violência de seus atos e comportamentos, mas também quanto às suas construções ideológicas, incrustadas no modo de vida da sociedade. Borrillo diferencia a homofobia afetiva ou psicológica, de cunho individual e que se traduz em rejeição aos homossexuais, da homofobia cognitiva ou social, fundada na supremacia heterossexual, tendo como objetivo simplesmente perpetuar a diferença homo/hétero. “Neste último registro, ninguém rejeita os homossexuais; entretanto, ninguém fica chocado pelo fato de que eles não usufruam dos mesmos direitos reconhecidos por heterossexuais.” Ambas as formas de homofobia são autônomas. “Assim, é possível não experimentar qualquer sentimento de rejeição em relação a homossexuais (e até mesmo ter simpatia por eles/elas) e, no entanto, considerar que eles/elas não merecem ser tratados/as de maneira igualitária. O mesmo ocorre com a misoginia: quantos homens desejam e amam mulheres sem que essa atitude os impeça de tratá-las como objetos?”

Para Vange Leonel, “a homofobia tem duas raízes importantíssimas: uma, é a condenação religiosa e a outra, é o machismo. O fundo machista é porque o gay não tem virilidade, enquanto a lésbica rouba a virilidade do homem, mas as religiões condenando a homossexualidade é uma sacanagem, porque se está condenado como pecado um traço biológico”, aponta. “É como condenar alguém que tem olhos verdes, dizendo que isso é pecado. Não escolhi ser homossexual. Eles julgam como desvio da conduta moral, esse é um grande nó para se desatar.”

Mas uma questão que torna a discriminação e o preconceito dirigidos a homossexuais particularmente mais cruéis se relaciona ao fato de que são visados, sobretudo, indivíduos isolados, e não grupos já constituídos como minorias. “O homossexual sofre sozinho o ostracismo da sua homossexualidade, sem qualquer apoio das pessoas à sua volta e, muitas vezes, em um ambiente familiar também hostil. Ele é mais facilmente vítima de uma aversão a si mesmo e de uma violência interiorizada, suscetíveis de levá-lo ao suicídio”, afirma Borrillo em seu livro.

Fonte - http://www.revistaforum.com.br/noticias/2011/01/17/homofobia_em_preto_e_branco/

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mídias e educação

Recentemente fui convidada pela coordenação do curso de Pedagogia da Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades da UNIGRANRIO a proferir uma palestra sobre Mídias e tratamento da informação, a qual aconteceu ontem, no auditório Wilson Chagas, com a participação de aproximadamente 120 discentes e docentes dos cursos de Pedagogia, Letras e História. Deixo aqui meu agradecimento a todos que prestigiaram o evento.

Uma das referências que utilizei para preparar o encontro foi o livro “O que é mídia-educação?”, de Maria Luiza Belloni, publicado pela editora Autores Associados em 2005. Escolhi este livro, em primeiro lugar, porque a autora oferece uma boa justificativa para o ensino das mídias - baseado-se em Len Masterman (1993) - e, em segundo lugar, porque problematiza os desafios para a educação com mídias no século XXI. Quanto às justificativas para eninar mídia, a autora destaca os seguintes aspectos:

“o consumo elevado das mídias e a saturação à qual chegamos;a importância ideological das mídias, notadamente através da publicidade;a aparição de uma gestão de informação nas empresas (agências de governo, partidos politicos, ministérios etc);a penetração crescente das mídias nos processos democráticos (as eleições são antes de tudo eventos midiáticos);a importância crescente da comunicação visual e da informação em todos os campos (fora da escola, que privilegia o escrito, os sistemas de comunicação são essencialmente icônicos);a expectative dos jovens a serem formados para compreender sua época (que sentido há em martelar uma cultura que evita cuidadosamente as interrogações e as ferramentas de seu tempo?);crescimento nacional e internacional das privatizações de todas as tecnologias da informação (quando a informação se torna uma mercadoria, seu papel e suas características mudam). a escola deve integrar as tecnologias de informação e comunicação porque elas já estão presentes e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola, especialmente à escola pública, atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas máquinas está gerando” (BELLONI, 2005, p. 10).

Considerando a multidimensionalidade do campo, Belloni (2005) também destaca alguns desafios para a mídia-educação, ou modos de integração das tecnologias da informação e comunicação aos processos educacionais, os quais devem:

“ir além das práticas meramente instrumentais, típicas de um certo “tecnicismo” redutor ou de um “deslumbramento” acrítico;ir além de uma visão “apocalíptica”, que recusa comodamente toda tecnologia em nome do humanismo, remetendo a questão para as calendas gregas e favorecendo práticas conformistas e não reflexivas derivadas de pressões do mercado, e dar um salto qualitativo na formação de professores, uma mudança efetiva no sentido de superar o caráter redutor da tecnologia educacional (BELLONI, 2005, p. 13).

As idéias de Belloni são um excelente ponto de partida para o debate sobre mídia e educação. E você, o que pensa sobre isso? Deixe um comentário!